Uma questão de legitimidade
A legitimidade que se tem para agir de forma x ou y é a bolha actimel que nos protege das ignorancias, más educações ou até mesmo maldades. Quando se tem legitimidade para fazer alguma coisa, não significa que estejamos a actuar na forma mais acertada mas unica e exclusivamente que alguem nos outorgou legitimidade para poder decidir escolher e agir. Quando se trata de acções a nivel pessoal é facil pois somos nós prórpios a outorgar-nos essa legitimidade mas quando estas acções se inserem na esfera colectiva e pressupõem estarmos a actuar em nome de outro, tal obriga-nos a relembrar que se a bolha actimel existe é para alguma coisa e que se lá està é porque alguem a pôs.
É dentro desta lógica que me aparecem como absurdas as declarações de Chavez quando indica que o Rei Juan Carlos não foi eleito, ao contrário dele próprio. Isto porque se ele, Hugo Chavez, detem a legitimidade, proveniente de eleições, para agir como agiu durante a Cimeira, paralelamente o Rei tambem a tem, decorrente do referendo Constitucional de 1978. Ambos estão então em pé de igualdade, a defeito da impenetravel mà educação e indelicadeza demonstrada pelo lider venezuelano, apenas comparavel em dimensão à falta de rigor de conceitos com que nos brindou ao classificar José Maria Aznar de fascista. Esta foi apenas mais uma daquelas maravilhas do nosso mundo que nos fazem classificar tudo o que pende para a direita como fascista numa simplificação infantil e banalização atroz de uma forma de regime que apenas existiu verdadeiramente num só país (Italia) tendo inspirado um outro (Alemanha) a desenvolver forma de actuação similar mas diferente (nazismo). Mas ele que não se queime, pois ao infatilizar a história pode acabar sendo apenas mais um MaoLeninoStaliniMarxista como tantos outros que catalogamos sem rigor e não o descente directo de Salvador Allende e continuador de Fidel (quem tanto nos seus inicios criticou e de que està londe de o ser) como gostaria de ser recordado entre nós.
Voltando à legitimidade, uma vez mais somos brindados com uma daquelas incoerencias que tornam a nossa democracia ocidental tão bela mas tão manifestamente irritante ao mesmo tempo. Temos um líder eleito com quase 55% dos sufragios que durante a sua campanha promete a mudança. Alías, chega mesmo a afirmar que ele "se encontra pronto pois no mais fundo de ele próprio sente que a França não mais teme a mudança mas que a quer". Avisa o país das suas intenções, é eleito estrondosamente com um programa e tenta juntar as palavras aos actos. Tem toda a legitimidade para tal, uma legitimidade popular maioritaria proveniente do unico e indivisivel soberano: o Povo. Resultado: a minoria revolta-se, bloqueia, impede, rejeita...utiliza todos os meios para fazer face à força da vontade popular. Pena...muita pena...No fundo, eles tambem têm legitimade para não irem trabalhar se quiserem, para fazerem greve se quiserem, mas nunca para fazerem saltar carris de comboio ou fecharem universidades. O mesmo senhor que foi eleito indicou no discurso em que foi investido pelo seu partido que "a França é uma Republica que acredita desde a sua origem que não se pode viver sem regras, sem valores e de uma certa forma sem moral. Acreditamos no mérito, único a legitimar as ambições, acreditamos no trabalho, sem o qual não se faz nada da vida, acreditamos no esforço que dá sentido à nossa existencia, acreditamos na justiça, que permite respeitar uma ordem sem a qual apenas existiria a lei da selva, acreditamos na abertura e tolerancia sem a qual as sociedades são mortais e esterilmente fechadas nelas próprias".
Simon Veil indicou outrora que "a obediencia a um homem cuja aurotidade não é iluminada pela legitimidade é um pesadelo". O que fazer quando não se trata de um homem mas de uma parte da sua própria população?
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